Fim do mundo
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
Capa
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Folha de Rosto
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4ª Capa
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terça-feira, novembro 22, 2005
Conto
Cala a boca e escuta. Esse é o som de quem ainda se importa.

Pequenas Distrações
Gregório Bacic


A antiga mureta subiu com a rapidez com que sobem os tijolos de uma sepultura. As setas dos portões cresceram apontadas para o céu, e só não se perderam no espaço porque a laje do primeiro andar do sobrado as conteve... com determinação. Uma guarita se instalou na calçada entre as arvores moribundas na entrada dos automóveis, no chão cimentado que antes da reforma era um jardim ingênuo, de copos de leite e rosas vermelhas. As janelas dão contra a vontade para a rua, a rua... envergando grades de puro aço que entre as frestas mal permitiria a passagem de um gato esguio.



A casa antigamente singela, só não se transformou num bunker total de segurança máxima, porque permanecia vulnerável às quedas dos aviões, do jeito que as coisas iam; aos bombardeios aéreos, que mais cedo ou mais tarde o crime lançaria mão. O patrimônio da família - o medo - estava provisoriamente a salvo; medo de ladrões, dos seqüestradores, dos estupradores, medo dos ventos, das enchentes, dos miseráveis, dos poderosos, dos fiscais, medo do terror, dos traficantes, dos negros, dos nordestinos, medo dos maloqueiros da favela, dos vendedores, dos cobradores, dos pregadores fanáticos, dos moto-boys que fumam maconha, dos ônibus lotados que despencam pela rua, medo da liberdade, medo da morte, medo da vida, medo do outro. Apesar de já inexpugnável, a fortaleza crescia ainda mais - era preciso assegurar-se da confiabilidade dos guariteiros.



Assim a família instituiu o uso doméstico do crachá, todos os novos residentes: pai, mãe, avó, tio avo, filho, duas filhas, nora e genro, deveriam portá-lo no peito, cabendo ao guariteiro liberar a entrada somente aquele que cumprisse a norma. E nisso as mulheres da casa questionaram a real eficácia do método, e protestaram contra o anúncio de que haveria crachás para os visitantes. O que condenaria o fim ao gosto da filha mais nova de 15 anos, vista em casa como perigosamente distraída, à receber amigas da escola. Só assim pudera provar se os guariteiros eram cumpridores e responsáveis de suas tarefas - Sem crachá -ninguém entra! Nem o dono, por mais inconfundível que seja aos olhos de seus servidores. Decidiu então pela obrigatoriedade dos guariteiros preencherem relatórios diários, enumerando horários de saída, entrada - e numa coluna de ocorrências extraordinárias, a passagem de terceiros, como carteiros, entregadores de jornais, mendigos, e outras pessoas vista com suspeita! Quem sabe não estaria ali se esboçando um crime hediondo de seqüestro! O crescimento vertiginoso desses eventos nessas estatísticas determinavam a preferência da família por carros populares, os únicos capazes de não chamar a atenção dos criminosos a espreita. Mas como bastasse um único descuido para por tudo a perder, resolveu-se elidir os riscos providenciando a blindagem da frota familiar de Uno Mile!



Na manhã seguinte decidiu-se instalar uma câmera de vídeo voltada para os portões, evoluiu-se para um sistema completo de capitação de imagens e de sons, ocultando-se micro câmeras, microfones, nos pontos do lar considerados estratégicos. Quando a filha mais nova, vista em casa como perigosamente distraída, esqueceu-se da vigilância eletrônica, e masturbando-se, foi surpreendida pela câmera, instalada na dispensa. Por não saber como abordar o assunto, o pai fingiu não ter visto nada! - e transferiu o fardo para a mãe. As mulheres da casa foram informadas que sua intimidade estava suspensa, não se sendo aconselhável banhar-se ou trocar de roupa sem antes reservarem horários apropriados, de curta duração, em que as gravações dos banheiros seriam interrompidas para revisão técnica! A mãe contornou o mal estar argumentando se aquele era um preço alto a ser pago, seria ainda muito baixo, caso um dia as câmeras viessem a registrar cenas de estupros! Quanto à filha mais nova de 15 anos, vista em casa como perigosamente distraída, foi severamente admoestada pela indecência que gerou a situação... mas ganhou da cunhada como consolo um filhote de Chiuaua, a quem deu o nome de Speed Gonzales. Tanto se apegou que passaram a ser tratados na casa como casal Gonzales!



Agora o sistema de segurança era comprovadamente perfeito... mas e se algo falhasse...? Foi necessário reforçar a segurança com pit bulls amestrados, Goebbels e Goering. Com penúltima instancia, sim porque havia uma penúltima instancia, metralhadoras de cano curto, Calachini Cov, adquiridas à um contrabandista para armar a família contra terríveis conseqüências de um porre, um surto de loucura, ou até mesmo da traição do segurança nordestino de plantão! Ah... a traição do segurança nordestino de plantão! A lógica imperava mais uma vez, para enfrentar o pior inimigo, somente com a mais poderosa arma do pior inimigo. O recebimento de pizza, duas vezes por semana, mereceu o nome de Operação Marguerita 1, claro, depois se repetindo com 2, 3, 4, consistia na distribuição dos homens da família em pontos recônditos da casa, a espreita... com suas Calachini Covs em punhos, prontas para disparar. Escondendo-se o pai atrás da janela do sótão com uma granada na mão onde poderia observá-lo em torno e contra atacar se necessário! Enquanto o mulheril se postava em alerta na sala de jantar, empunhando talheres pontiagudos, especialmente afiados para a ocasião, com que deceparia os vilões acuados, os dedos, ou as mãos, ou que mais fosse preciso... O tio avô recebia a entrega pelo vão da jaula de portões, não sem antes obrigar o entregador a provar um naco da pizza. Para certificar-se se não trazia soporíferos, barbitúricos, ou drogas de qualquer espécie, que pudessem arrefecer as trincheiras da família. Por que atravessar a vida arrastando esse fardo cruel, que nada contém a não ser o medo do que poderia um dia... talvez... quem sabe... por ventura vir a acontecer? Por que não baixar a guarda e cuidar sem temor para que a vida pudesse correr solta lá fora... lá fora?



A filha mais nova de 15 anos chegou a fazer essas perguntas em casa, foi vista -- é claro -- como perigosamente distraída, ingênua! Como seria possível fechar os olhos para a realidade? E a realidade é que já não se respeitam mais os valores que fizeram o mundo caminhar até aqui, sabe onde se escondem os bandidos? Nem mais se escondem. Hoje em dia são as pessoas direitas que se escondem. É preciso desconfiar de tudo e de todos, porque o tiro perdido, a bala certeira vem, não se sabe de onde, mas vem! Chamar a policia?! Nem pensar, seria o mesmo de abrir as portas de casa e expor as fragilidades do nosso reduto a pessoas suspeitas. Que depois certamente darão serviço a sabe-se lá quem... Por distração da filha mais nova de 15 anos vista em casa como perigosamente distraída, Speed Gonzales, o filhote de chiuaua escapou para o quintal... invadiu o cercado dos pit bulls, sendo estraçalhado por Goering, em atraso a filha mais nova de 15 anos, vista em casa como perigosamente distraída, não chegou a tempo, em estado de choque, seus olhos puderam apenas acompanhar os minutos finais do minúsculo Speed Gonzales, que era devorado pelo mastodonte que relutava para não dividir o petisco com o enfurecido Goebbels.

A família cachapou-se de tal forma com o estado da filha, que decretou por 3 dias o toque de recolher. Durante o qual se deveriam extrair lições da tragédia doméstica... estampado nos olhos esbugalhados e no silêncio estarrecido da bela menina recolhida à cama. O que seria deles, se a tragédia, viesse de fora?! Pelas mãos criminosas de estranhos? Já no segundo dia porem a consternação familiar se esvaziou, dando espaço a algo irrefreável, que tomava corpo, um discreto sentimento de orgulho para com a atuação de Goering, em sua primeira situação de risco enfrentada naquela casa, diante do cãozinho invasor, não negou fogo, mostrou a que veio!! No terceiro alvorecer, a filha mais nova, de 15 anos, vista em casa como perigosamente distraída, trajando um baby-doll cor-de-rosa transparente sobre o corpo nu e calçando pantufas, desceu plácida para o quintal, rumo ao cercado de cães. Esganiçando Goebbels e Goering lançaram-se em sobressalto contra a grade. Uma Calachini Cov ergueu-se serena e calculadamente nas mãos da menina que metralhou os cães! Com a mão esquerda brandindo a arma para o alto, o braço direito e os quadris da menina iniciaram um meneio lento, sensual, evoluindo para a fúria lasciva de uma dança inebriante, orgástica em torno dos cães mortos. Os olhos azuis extasiados descobriram a câmara posta no alto. Num golpe arrebatado, a filha mais nova, vista como perigosamente distraída, rasgou a seda cor-de-rosa frontal que a cobria e, orgulhosa e provocadora, ofereceu os peitos assoberbados para o equipamento, após o que, o metralhou. Até aquele momento, toda cena poderia ter sido assistida pelo circuito interno de TV. Mas por quem, se já não havia sobreviventes?

posted by Leandro @ 1:14 AM   0 comments
quinta-feira, novembro 17, 2005
Criando
Talvez seja apenas eu, mas escrever quadrinhos é uma coisa muito mais delicada do que parece. É preciso achar um meio termo entre o artista, a história que deve ser contada e o escritor. E existe algo de frustante -- dependendo, é claro, do jeito que vc encara a coisa -- em escrever descrevendo imagens. Imagens essas que, no final das contas, não serão geradas por você. Pelo menos nesse caso, já que não vou desenhar essa história.

Enquanto escrevo, me lembro sempre de um sujeito chamado David E. Kelly. Ele criou e escrevia o seriado Ally Mcbeal, do qual eu realmente não posso falar nada porque eu não assisti mais do que meio episódio. Mas lembro desse cara porque o vi durante um de seus discursos de agradecimento dizendo: "eu queria agradecer em especial os atores porque, afinal de contas, se não fosse por eles meu trabalho não seria nada além de palavras no papel". É exatamente a sensação que tenho. Exatamente! E ainda assim quadrinhos continuam a ser uma mídia distante anos luz, em termos de respeitabilidade, da TV.

No entanto, escrevo com uma grande vantagem que é saber quem vai desenhar essa história. Existe uma grande liberdade em saber quem será o seu artista, em conhecer suas limitações e preferências. É bem melhor do que escrever "cego", para um artista qualquer ou para, no futuro, talvez, alguém se interessar. Se você quer fazer qualquer coisa nessa vida, saiba quem será (ou serão) seu(s) parceiro(s). Conheça-o e esteja aberto para aprender com ele e para ensinar a ele, quando for necessário. Essa troca torna aquele aquilíbrio do qual falei lá em cima bem mais fácil de achar. Ainda é uma dureza, mas pelo menos assim você não está na trincheira sozinho.

Semana que vem tem mais?

Acho que sim.

Porcos ainda são péssimos companheiros de ringue.
Leandro
posted by Leandro @ 12:15 AM   0 comments
domingo, novembro 06, 2005
Mais um dia, mais outro e de volta
It's been a while. I Know. Move along.

Hoje foi um dia bom.

E peguei-me pensando em quantas vezes na vida nós poderemos olhar para a noite e dizer algo como "porra, esse foi um dia bom!"?

Dias bons deveriam ser emoldurados ou transformados em placas ou marcados de alguma maneira. Vc sabe, para podermos controlar a migração e achá-los sempre que precisássemos. Seria legal, sempre que fosse preciso, tirar um dia bom da sacola de dias bons e vivê-lo de novo. Pra gente lembrar que esse negócio de viver não se parece sempre com a sensação de acordar na segunda-feira de manhã...

Trabalhando bastante esses dias, o que é bom. Me mantém ocupado, o que é melhor ainda. Tenho lutado contra um roteiro que insiste em ficar cada vez mais complicado mesmo tendo sido criado, desde o princípio, pra ser o mais simples roteiro de todos os tempos. Estou dando a minha contribuição para histórias do tipo "então alienígenas invadiram a Terra". O que sempre foi um tipo de história que me agradou. Estou, no entanto, tentando me afastar de toda coisa de "Guerra dos mundos" e afins, porque, como eu disse, é a minha visão desse tipo de história. Estou descobrindo a cada página uma renovada admiração por escritores de ficção-científica.

Existe uma liberade dúbia quando se escreve FC porque ao mesmo tempo que é possível "pirar" e inventar um milhão de aparelhos incríveis como celulares que funcionam de verdade e conexões de internet que não caem, ao mesmo tempo é preciso manter os pés no chão. É preciso contar a história. Extremamente fácil se perder em meio às milhares de possibilidades de novos meios de transporte público (por exemplo) e se esquecer que o personagem tem que sair de um lugar e chegar ao outro. Se ele vai fazer esse trajeto por meio de um metrô voador ou via carros movidos a café solúvel colombiano é o que menos importa.

Mas ainda assim é divertido. É a minha primeira experiência com FC e duvido muito que será a última. A próxima, aceredito, será melhor e, rezo, mais fácil. Se não servir pra mais nada, pelo menos vou poder dizer que dei a minha contribuição para o mundo da ficção-científica.

Se você não percebeu ainda, os textos aqui vão se tornar mais "work related". Sim, eu sou um chato. E estou de volta. Sente-se, isso ainda vai demorar.

Não lute com porcos.
Leandro
posted by Leandro @ 11:54 PM   1 comments
sexta-feira, setembro 09, 2005
Voltando...
Podem apostar, seus bastardos.
posted by Leandro @ 9:31 AM   0 comments
terça-feira, julho 12, 2005
Fim do Mundo
[Por enquanto]

Estou encerrando as atividades por aqui. Pelo menos por enquanto, até que as coisas voltem a funcionar normalmente. Vai demorar um bocado, ou talvez seja mais rápido do que se imagina. De qualquer maneira saiba que as atividades serão, de fato, retomadas. Porque eu odeio todos vocês desse tanto, brother.

Agora cai fora.


Leandro
posted by Leandro @ 10:27 AM   1 comments
segunda-feira, maio 30, 2005
Conclusão
posted by Leandro @ 3:38 PM   0 comments
é aqui onde começa.
About Me

Name: Leandro
Home: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
About Me: Nasci em Formiga-MG, moro em BH. Formado em publicidade e propaganda pela PUC-MG, mestrando em comunicação social.
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Aqui é Leandro Damasceno, reportando da Terra. Está tudo em paz aqui, câmbio? Estou testando widgets, ok? Câmbio Final.

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