Fim do mundo
sexta-feira, março 18, 2005
Sala de Vidro
[Fortaleza da Solidão]
Eu tenho uma fortaleza da solidão.

Para os leigos: A fortaleza da solidão original é uma "casa" construída pelo Super-homem (o das histórias em quadrinhos) no ártico. É pra lá que ele vai quando ele quer ser apenas o Super-homem. Sem medos, sem identidades secretas, sem ter que se esconder por trás da máscara de repórter. Ele é o único morador da sua fortaleza (daí o nome), e lá ele se sente bem.

Então, eu tenho uma fortaleza da solidão. Um espaço onde me recolho quando tudo parece conspirar contra e as coisas não fazem mais sentido – o que tem acontecido cada vez com uma freqüência maior – afinal, está tudo, indubitavelmente, errado.

Existe uma barreira que se passa quando se vai além da raiva e do ódio e da fúria. Quando mágoa é só mais uma palavra das tantas outras igualmente ruins, quando palavras não descrevem por completo toda a merda acumulada. Existe um lugar que vai além de gritar a plenos pulmões porque gritar já não afasta mais os demônios. É um lugar extremamente calmo e tranqüilo e limpo e mágico e quase branco – mas que tem cores ocasionais, dependendo da estação do ano – e esse lugar é diferente de tudo o que há nessa existência. Lá, o tempo não passa como aqui, todos os sons soam como boa música, os cheiros são aqueles que nos lembram as pessoas que amamos, a paisagem é como as montanhas de minas e se estende até onde a vista alcança. Esse lugar, que criei dentro de mim mesmo – que é a minha fortaleza a solidão – eu chamo de sala de vidro.

A sala de vidro é ótima, mas é irreal. E deve sempre continuar assim. Visitar a sala de vidro é como se refugiar de uma tempestade: por mais que o seu abrigo tenha mantimentos, uma hora a tempestade vai acabar e você vai ter que sair e contabilizar os estragos. Por isso a sala de vidro é um lugar de passagem. Não é possível ir para a sala de vidro, mas é recomendável ir à sala de vidro. É recomendável recarregar as baterias, estar preparado para a próxima onda de merda que vai surgir, porque vai surgir uma outra onde de merda sim, mesmo que você seja uma porra de um avestruz com a cabeça socada terra adentro.

A resposta não está em se esconder, tingir seu cabelo de volta ao preto original, comprar dois termos e arrumar um emprego como vendedor ambulante de seguro de vida. Não é possível ir para a sala de vidro e se esconder, com a atitude arrogante recorrente de “não vai acontecer nada de novo então eu posso simplesmente sentar a minha bunda gorda num sofá, reclamar da política econômica, elogiar o novo filme do Almodóvar, doar alguma grana para uma ONG, porque assim eu vou ser ‘cool’ e o mundo vai continuar sempre a mesma porcaria”. Não e não!

A resposta não está em dar descarga na sua coragem, porra!

E não procurem respostas aqui. Lembram de “se você não é parte da solução, então você é parte do problema”?

Eu sou parte do problema.

Agora volte a trabalhar,
Leandro

posted by Leandro @ 10:00 PM  
1 Comments:
  • At 5:35 PM, Blogger Rodrigo Ávila said…

    Oie! Saudades de você. Adorei seu texto: sua cara... hehehe! Vamos ver se saímos pra tomar um suco qualquer dia desses (sem stress, vai). Beijão!

     
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About Me: Nasci em Formiga-MG, moro em BH. Formado em publicidade e propaganda pela PUC-MG, mestrando em comunicação social.
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